É muito comum nos cursos que ministramos, a discussão sobre a eficácia e os riscos do agachamento quando utilizado no treinamento de força. Por vezes, alguns profissionais partilham do ponto de vista cômodo de que é melhor abrir mão do exercício do que se incomodar. É bem verdade, que muitos buscam embasamento para tal pensamento, que mesmo fugindo da nossa linha de raciocínio, apresentam lá suas coerências. O que me deixa pasmo, é a prática do comodismo, do “não sei o porquê não faço, acho que porque aprendi assim”. Paremos por aqui! Precisamos ser capazes de refletir sobre o que acreditamos e o que é melhor para os nossos alunos/clientes.
O fato é, que muito comumente, nos questionam sobre os exercícios de dominância de joelho, então gostaria de aproveitar o momento para uma reflexão. A primeira coisa que pedimos após nos apresentarmos e realizarmos as perguntas que compõe nossa anamnese, quando um novo aluno faz a sua primeira aula experimental, é que ele se sente. Sim, pedimos que ele sente em uma caixa ou step (poderia ser uma cadeira, se dispuséssemos de uma na área de treino). Ao realizar o movimento de sentar, o aluno automaticamente, e sem nenhum feedback, realiza uma série de ativações validando ou não suas funções articulares.
Podemos observar por meio deste simples movimento, se existe um padrão deficitário, desvios posturais e ainda se existe alguma compensação no movimento. Logo, após observá-lo sentar e levantar algumas vezes (de preferência sem o auxílio das mãos e sem gerar balanços ou impulsos), solicitamos que faça o mesmo movimento, porém agora, sem sentar na superfície. Isso nos permite iniciar a transferência de um simples movimento de sentar para a técnica que exigiremos no decorrer do treino de força (entenda-se treino de força, uma série de exercícios com o objetivo de força geral condizente com a capacidade física e técnica do praticante). Após alguns feedbacks sobre posicionamento dos pés, sobre como o peso do corpo deve estar distribuído, o que deve mover primeiro, se os joelhos ou o quadril, e também algumas questões sobre a correta manutenção da postura, iniciamos o exercício que chamamos de agachamento educativo (exercício de aquecimento que compõe nossa Fase 1 de treinamento*).
Esse exercício consiste exatamente no mesmo movimento praticado pelo aluno até então, porém se utilizando de um contrapeso nas mãos, neste caso uma medicine ball. Inicia-se o movimento segurando o contrapeso junto ao peito e à medida que vai agachando, o peso é movido para frente. Sim! Trata-se de uma técnica simples e fácil de ser executada e que a partir do seu entendimento, pasmem, nossos alunos já estão agachando. Pois bem, a cerca de aproximadamente 5 minutos após nosso aluno ter ultrapassado a barreira do comodismo (roleta de entrada) em busca de respostas para os seus problemas, ele está agachando e desenvolvendo um movimento básico para manutenção da atividade das suas articulações, músculos e tendões.
E agora vem a pergunta, o que foi ensinado a ele? O ensinamos a agachar?
Ensinamos que o peso deve estar distribuído na planta do pé, que o quadril vai para trás ou que o joelho avança? Ensinamos a ele como se sentar? Ou apenas, com pequenos ajustes, o ajudamos a resgatar um dos movimentos mais básicos e necessários, com uma qualidade que talvez, não experimentava desde a infância? Estimular é necessário! Criar receptores para as informações e principalmente, permitir que os erros aconteçam, é de extrema valia. Todos erramos e sempre iremos errar.
O que precisamos é estar próximos, e sermos capazes de identificar os pontos fracos de nossos alunos para que assim que errem, entendam seus erros e suas dificuldades, possam corrigi-los e continuar evoluindo sempre. Permitir que o meu aluno erre, não significa ser displicente, significa entender o processo de desenvolvimento e de reorganização de um novo padrão.
Mas lembrem-se, estamos falando de um processo de aprendizagem, do aquecimento, do início. Porque, depois que ele estiver com a barra nas costas, agachando com 200Kg, não será tão simples lapidar a técnica, dar feedbacks ou solicitar que regrida. Se errarmos no processo de aprendizagem, a responsabilidade é, e sempre será NOSSA, como educadores, treinadores e professores.