Ao pensarmos em treinamento físico, deveríamos relacionar os exercícios que normalmente fazemos, com os padrões de movimento (PM) naturais do ser humano. Essa forma de pensar vem tomando conta das academias e, através do treinamento funcional, vem se popularizando de forma rápida, pois é nítido que as pessoas, de forma geral, já entendem que a qualidade de movimento deveria ser prioridade para se adquirir a tão desejada qualidade de vida. Dessa forma, o treinador tem a obrigação de saber de que maneira os padrões de movimento se relacionam entre si e de como planejar um treinamento que mire, de forma certeira, o objetivo de seus alunos.
Ao entendermos que os PM devem ser prioridade no planejamento das sessões de treino de nossos alunos – principalmente para alunos iniciantes – fica mais fácil colocarmos em prática sequências programadas que visem a integração de movimentos através das funções articulares. Esses movimentos devem ser encaixados dentro de um determinado grupo, pois quando começamos a relacionar exercícios que conhecemos com seu respectivo PM, damos o primeiro passo para programar algo que faça sentido, e tenha um começo, meio e fim.
Um Back Squat – agachamento com barra nas costas – é de fácil interpretação. Isto é, não há dificuldade em dizer que esse exercício é um Dominante de Joelho (DJ). Um Bench Press é, com toda convicção, um Empurrar Horizontal (EH). Esses exemplos são clássicos, entretanto um Deadlift – Levantamento Terra – que é um Dominante de Quadril (DQ), pode ser interpretado de forma errada se for analisado rapidamente. Para explicar o porquê dessa interpretação, temos que descrever o que é um DJ e um DQ. O Padrão de Movimento de DJ é caracterizado pela flexão acentuada das articulações do tornozelo, joelho e quadril. Para deixar ainda mais claro, podemos dizer que a tíbia se inclina anteriormente alinhando-se com o tronco (Figura 1). Agora, se analisarmos um Low Bar Back Squat e um Front Squat, veremos que ambos são DJ, porém as angulações articulares se diferenciam um do outro. Isso significa que a ênfase muscular é modificada, mas o padrão se mantém o mesmo. Isto é, ambos são exercícios com dominância de joelho. No caso dos exercícios de dominância de quadril, vemos algumas questões que fizeram com que se criassem uma categoria híbrida. Esse termo é apenas para dizer que um exercício pode ser direcionado tanto para um padrão como para outro. O melhor exemplo que vejo diariamente na academia é o Deadlift (Levantamento Terra) com a barra hexagonal. Como podemos ver na figura 2, o posicionamento das mãos é na linha do tronco. Isso facilita o posicionamento mais “sentado” fazendo com que a interpretação seja dificultada. A ideia é que a saída – fase concêntrica – seja realizada com os ombros acima da linha do quadril e o quadril acima da linha dos joelhos, porém esse posicionamento pode variar. Entretanto, como regra geral, é assim que se caracteriza um DQ. Agora, se o aluno ficar com o tronco mais perpendicular ao chão, haverá mais dorsiflexão e a linha do quadril irá se aproximar da linha do joelho, quase caracterizando um DJ. Eu disse quase! Essa análise deve ser feita pelo treinador, pois dependerá muito das características estruturais de cada indivíduo e que ênfase o treinador deseja dar àquele exercício.
O mais importante é entender como a relação entre as articulações podem mudar consideravelmente o objetivo de um exercício e como pequenos ajustes podem facilitar a execução por parte do aluno que muitas vezes escuta que “assim” é certo e “assim” é errado.
Um exercício mental, importante a se fazer por parte de nós treinadores, é pensar em exercícios que possam mudar suas características com apenas alguns pequenos ajustes. Esse treino faz com que melhoremos a organização dos treinos de nossos alunos, pois, dessa forma, temos a capacidade de decidir as ênfases musculares de forma mais clara e com menos margem de erro.