Em todas as áreas existem ótimos, bons e maus profissionais. Isto é normal e nunca será diferente. Para aqueles que nunca se contentam com o que já sabem, esta condição favorece a continuidade de seu crescimento e, por isso, conseguem sempre se manter à frente daqueles que param no tempo e deixam de investir em conhecimento.
É natural que pessoas que correm atrás de um ideal, focando em algo, consigam se diferenciar dos outros e iniciem um processo de melhor entendimento sobre um determinado mercado ou de um assunto específico. Estas pessoas entendem que nunca será possível saber tudo e se aproximam de outros que entendem mais de determinados assuntos, persistindo em seu objetivo de ser o melhor possível no que lhe dá mais prazer e motivação. Bem, o que quero dizer com isso é simples. Por isso, serei objetivo.
Nossa área, a educação física, principalmente no mundo do fitness, está cada vez mais carente de pessoas que acreditam em determinados pontos de vista e defendem com unhas e dentes suas opiniões. Não quero dizer aqui que não podemos mudar de ideia. Pelo contrário. Acredito, que a evolução parte da quebra constante de paradigmas e isso faz com que melhoremos cada vez mais naquilo que acreditamos ser o melhor. Porém, a busca constante por novas alternativas de trabalho com o único objetivo de ascensão profissional dificulta a trajetória nesta evolução, pois facilmente perde-se a referência e começasse do zero. A maior referência que tenho no mundo do treinamento, como alguns já sabem, é o coach Michael Boyle. Referência por ser diferenciado na forma com que se expressa, e como defende seu ponto de vista. Pude ter a oportunidade de participar de dois de seus cursos e em cada um deles, vi a simplicidade nas palavras. Simples, porém, direto. Isso me levou a entender que não precisamos nos esconder atrás de nada quando temos a certeza do que falamos, ou do que ensinamos às pessoas. Em um de seus textos ele fala que muitos treinadores se escondem atrás do treinamento funcional, pois isso facilita suas vidas por não saberem muito sobre treinamento físico de verdade. Ele mesmo diz que quando se passou a utilizar esta nomenclatura (treinamento funcional), tudo parecia perfeito, até cair nas mãos de pessoas erradas. Sinto como se fosse um desabafo, uma forma de tentar entender o que deu errado com um conceito perfeito sobre treinamento, mas que hoje já não se sabe se é tão bom assim.
Comecei a compreender o treinamento funcional há pouco tempo. No início, depois de fazer alguns cursos, percebi que a ideia de tirar as pessoas das máquinas de musculação era uma ótima alternativa para mim, pois eu mesmo não suportava muito a ideia de sentar em uma daquelas máquinas para me exercitar. Porém, com o tempo percebi que o treinamento funcional estava se tornando algo totalmente desvinculado das leis do treinamento, com sequências de exercícios mirabolantes e aleatórios que chamavam a atenção dos alunos, não pela eficiência nos resultados, mas sim por ser “diferente” e “muito legal”. Percebi também, que muitos profissionais iniciaram um processo de migração para estes novos exercícios aleatórios e começaram a se tornar treinadores e personal trainers diferentes perante os olhos do público leigo. Hoje, viajando o Brasil e falando sobre o que é o treinamento funcional para a BPro, percebo que a grande maioria das pessoas que trabalham com esta metodologia, não sabem, com convicção, o que estão fazendo. Não entendem os porquês dos padrões de movimento, das funções articulares, dos exercícios corretivos, das avaliações de movimento, progressões e regressões, etc.
Por que isso acontece?
Para mim é uma autodefesa contra um mercado muito competitivo que está saturado e que quando se enxerga uma brecha, uma nova modalidade, um novo nome, ou novo “qualquer coisa”, tende-se a pular do barco em que está para outro que está passando. E isso dura até quando? Até passar um novo barco que chame mais atenção. Entendo que devemos mudar sim quando há CONVICÇÃO. Quando há identificação sobre algo. Quando alguma coisa realmente muda nossa vida. Mudar por mudar, por parecer que nos dará mais dinheiro é a mesma coisa que querer ter um filho pelo simples fato de acreditar que terá mais uma pessoa que possivelmente lhe cuidará em sua velhice, e não pelo fato de desejar, por amor, esta criança em sua vida. Digo isso porque acredito que nossa profissão é como um filho. Você constrói, alimenta, constrói, busca os erros, reconstrói e assim por diante, até um dia olhar para trás e perceber que tudo valeu a pena e que quem mais aprendeu com tudo isso foi você mesmo. Isso é o que acredito que deveríamos pensar quando escolhemos uma profissão ou um novo caminho dentro dela.
Me referi ao coach Boyle no começo deste artigo, por ter falado sobre treinamento funcional e, como muitos de vocês sabem, ele é considerado uma das maiores referências no assunto. Por este motivo, não enxergo as palavras dele como uma crítica ao termo e sim às pessoas que tentam reinventar o que já existe há muitos anos. Isso acontece também com o CrossFit. Muitos estão se escondendo atrás dessa marca que figura o mundo do fitness. Qualquer um, com certo dinheiro em caixa, pode abrir seu box e se considerar um coach. Mas isso somente não o credencia e a ser um treinador capacitado.
Deixe eu me defender aqui, para que ninguém julgue minhas palavras antes mesmo de chegar ao final do artigo.
A BPro não é uma CrossFit, mas consome a marca. Isso significa que, nos identificamos com algumas práticas do CrossFit, por outro lado, discordamos de outras. Acredito que o problema não está na marca e sim, na forma com que muitos “pseudo coachs” incorporam o CrossFit nos treinos de seus alunos. Fica fácil entender, que mais uma vez, o problema não está na marca ou no método. Está diretamente relacionado à capacidade do treinador discernir o que seus alunos podem ou não pode fazer, digo, o que devem ou não fazer. Vejo que para muitos, o CrossFit está sendo uma válvula de escape, pois montar treinos aleatórios com o objetivo único de “matar o aluno no cansaço”, não necessita de muito estudo e planejamento. Não sei até onde tudo isso vai. Até onde o termo treinamento funcional se manterá ativo. Também não faço a mínima ideia do que acontecerá com o CrossFit
e com seu coachs de curso de final de semana. A única coisa que sei é que devemos trabalhar e estudar muito. Não deixar nunca de conhecer novas metodologias e testá-las para entender o que podemos tirar de bom de cada uma destas formas de treinamento.
Espero, mais uma vez, que nós, educadores físicos, saibamos diferenciar o que é marketing do que é ciência, e assim, possamos tomar as decisões corretas quando tratamos de um filho, no caso, nossa profissão.